Estudiamos lo mismo, declarou, e começou a me explicar sobre o que era sua tese. Discorreu sobre o sujeito fragmentado pós-moderno e os espaços confinados da pós-modernidade; sobre o fim da utopia, sobre Baudrillard, Lyotard e vários outros autores, alguns dos quais eu nunca tinha ouvido falar; depois partiu para uma autora chilena, Eltit, e então falou do último livro, como tinha gostado, ou não, não entendi direito.(1)
– Es más real el agua de la fuente o la muchacha que se mira en ella?(2)
– Que diferença isso pode fazer agora?(3)
Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira.(4)
– Crúzame tu existencia, suponiendo que mi corazón está destruido.(5)
– Você está completamente louco.(6)
Ele já estava se levantando quando me lembrei de perguntar:
– Se acontecer alguma coisa com você, a quem eu devo avisar?
– O que pode me acontecer?
E acrescentou, já saindo pela porta:
– Isso tudo não é uma ficção?(7)
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1. Paloma VIDAL. Algum lugar. 2009. Editora 7Letras. Rio de Janeiro. 2009, pg.34.
2. Nicanor PARRA. Poemas & Antipoemas. 1954. Editorial Universitaria. Santiago, Chile. 2008, 6ª reimpressão, poema: “Preguntas a la hora del té”, pg. 47.
3. Nathan ENGLANDER. Para alívio dos impulsos insuportáveis. 1999. Tradução de Lia Wyler. Editora Rocco. Rio de Janeiro. 2007, pg.29.
4. Chico BUARQUE. Budapeste. 2003. Companhia das Letras. São Paulo. 2003, 2ª edição, 3ª reimpressão, pg.5.
5. Pablo NERUDA. Residência na Terra I. 1925-1931. Tradução de Paulo Mendes Campos. L&PM Pocket. Rio Grande do Sul. 2007, edição bilíngue, pg.32.
6. Henrik IBSEN. Um inimigo do povo. 1882. Tradução de Pedro Mantiqueira. L&PM Pocket. Rio Grande do Sul. 2007, pg.27.
7. Luis Fernando VERISSIMO. Os espiões. 2009. Editora Alfaguara/Objetiva. Rio de Janeiro. 2009, pg.60.
Imagem: capa do livro “Whispering gallery”, de Andrew Burke