Houve um momento quando estava me aproximando dos trinta anos em que eu admiti que meu amor por aventuras já tinha acabado há muito tempo. Eu jamais iria fazer as coisas que havia sonhado1 quando topamos entrar na vida do outro.2 Eu percebia, e ela percebia que eu percebia, mas nenhum de nós dizia nada.3 Eu me lembro4: Empurro-a contra parede, tento penetrá-la, mas não consigo, então sentamos na privada e tento, mas também não conseguimos. Tentamos de todo jeito, mas não dá. Ela continua segurando meu pau como se fosse um salva-vidas, não adianta.5 A vela está quase a extinguir-se.6 Simplesmente não posso. Não poderei nunca mais.7
Tudo tem um fim; o mais amplo recipiente acaba ficando cheio.8 A vida é engraçada, não é?9 No fundo, uma questão de invenção, de inventar antes dos outros, de adiantar-se na criação de novas formas e de fazê-las sempre novas.10 Nem sei o que eu ainda estou esperando.11
1 Julian BARNES. O sentido de um fim. Tradução de Léa Viveiros de Castro. Rio de Janeiro: Rocco, 2012, p.101.
2 Fernando MOLICA. O livro branco (Vários autores. Organização de Henrique Rodrigues). Rio de Janeiro: Record, 2012, p.91.
3 Henry JAMES. A volta do parafuso – seguido de Daisy Miller. Tradução de Guilherme da Silva Braga. Rio Grande do Sul: L&PM, 2008, p.14.
4 Julian BARNES. O sentido de um fim, p.9.
5 Henry MILLER. Trópico de Câncer. Tradução de Beatriz Horta. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006, p.22.
6 Graciliano RAMOS. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1985, p.188.
7 Carson MCCULLERS. Conto: Wunderkind. Livro: A balada do café triste. Tradução de Caio Fernando Abreu. São Paulo: Círculo do Livro, 1987, p.102.
8 Robert Louis STEVENSON. O médico e o monstro. Tradução de Heloisa Jahn. São Paulo: Ática. São Paulo, 1996, p.90.
9 Scott ADAMS. Dilbert – Preciso de férias! Rio Grande do Sul: L&PM, 2010, p.84.
10 César AIRA. As noites de flores. Tradução de Paulo Andrade Lemos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006, p.57.