MixLit 39: A lei ainda não havia pegado

Os boatos assumiam a forma de notícias falsas que circulavam captadas no rádio1. Uma multidão de curiosos acompanhava da rua a confusão no pátio maior. A maioria permanecia calada, mas alguns gritavam, cheios de entusiasmo2: “União entre irmãos3!”

Quando chegamos à casa encontramos Hunter muito agitado (embora fosse daqueles que acham de mau gosto mostrar as paixões); tentava disfarçar, mas era evidente que alguma coisa estava acontecendo4.

Não será coisa da raça e da cultura deles? – eu disse5.

– Os malditos negros deviam ter sua própria cadeira elétrica – comentou6 – Por que não podem esperar até amanhã?7

Já havia passado mais de um ano da data em que o tráfico de escravos estava proibido8.

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1. J.M.G. LE CLÉZIO. Refrão da fome. Tradução de Leonardo Fróes. Cosac Naify. São Paulo. 2009, p.196.

2. Ismail KADARÉ. Uma questão de loucura. Tradução de Bernardo Joffily. Companhia das Letras. São Paulo. 2008, p.42.

3. Paulo NADER. Curso de direito civil – Direito de família – Vol.5. Forense. Rio de Janeiro. 2010, p.85.

4. Ernesto SABATO. O túnel. Tradução de Sérgio Molina. Companhia das Letras. São Paulo. 2000, p.113.

5. Sérgio SANT´ANNA. A senhorita Simpson. Companhia das Letras. São Paulo. 2003, 3ª reimpressão pg.214.

6. Stephen KING. Á espera de um milagre. Tradução de H.G. Cortes. Objetiva. Rio de Janeiro. 2010, p.199.

7. Henry MILLER. Dias de paz em Clichy. Tradução de Roberto Muggiati. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004, p.62.

8. Ana Maria GONÇALVES. Um defeito de cor. Record. Rio de Janeiro. 2008, p.435.

Imagem: “Fat white oppression”, ilustração de Geert Oosterhof: http://geertoosterhof.blogspot.com/

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